e mais ...

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

metamorfose

eu sou a lagarta que se recusa a transformar, sou metida dentro de mim, acanhada, vivo num mundo deserto. não nasci para brilhar em frente de uma multidão, sou antes a sombra que desliza solitária no silêncio da noite, sou o tempo, calmo, lento, sou a escuridão, absorta, fria. não preciso de ser olhada, admirada, não sou borboleta, caçadora de atenção no seu bater de asas estonteante, sou a semi-lagarta, numa eterna metamorfose, que foge da luz, do brilho das estrelas, que quer fugir, esconder-se, a quem tentam colocar como que num palco para representar a história da sua vida, mas constantemente traída pela sua própria natureza, pelo frio do seu interior, ofuscada, procura uma forma de se soltar, de caminhar no seu passo arrastado de volta para onde não há luz. sou a fantasia, o mistério de um buraco negro, sou aquela que cativa por não ser, por não estar, sou o nada, sou o tudo, sou o que restou de mim, sou um vazio de alma, o eco longínquo que já ninguém quer ouvir. eu sou aquilo em que tu me tornaste, sou o bicho, sem coração, sem alma, sou aquela a quem tiraste tudo o que tinha e eu ainda assim acreditei. na altura em que ainda amava, tu eras a minha luz, na altura em que ainda sentia, eras a minha perdição, e eu ofereci-te o meu coração, coloquei-o nas tuas mãos, sem medo, mas mal virei as costas, embalada nessa doce ilusão, apunhalaste-me e comeste tudo o que restava dentro de mim, nesse teu jeito canibal, comeste tudo o que conseguiste e depois partiste, tal como um predador larga a carcaça da sua presa após a refeição, e eu fiquei, esvaindo-me em sangue, lutando por sobreviver arrastei-me para a sombra e lá fiquei, medrosa demais para voltar a enfrentar-te. agora estou mais forte, mas não consigo sentir mais, estou destinada a ser a lagarta em metamorfose, aquela que tem medo da luz, a que foge, a que não sente.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

e se o coração partir ? (2)

estava sentada na cama, uma grossa camada de lágrimas ainda me nublava a vista, depois de uma tarde entregue a elas. folheava desesperada os álbuns de fotografias, de quando ambos ainda éramos crianças, de quando ele ainda estava aqui .. esse pensamento voltou a fazer as lágrimas rolar pelo meu rosto, indo precipitar-se na manta em que me tinha enrolado numa tentativa vã de me sentir aconchegada, como sentia quando ele se sentava no meu colo e me abraçava, como quando ele tinha pesadelos e se refugiava debaixo dos meus lençóis. as lembranças iam pesando mais e mais no meu coração. ele era tão pequeno, tão frágil, mas tão vivo, e tinha tanto para viver, o meu irmãozinho .. sinto que devia ter feito mais por ele, não consigo suportar a impotência que senti ao vê-lo perder a cor ao poucos, naquela maldita cama de hospital onde ele terminou os seus dias. foi demasiado cedo. e acima de tudo, foi demasiado rápido. não levou mais de uma semana a ser vencido pela doença que o atacou sem estar à espera, e eu olhava para ele todos os dias, desejando poder dar-lhe tudo aquilo que não poderia viver, tudo aquilo que já não iria ter, queria levá-lo a conhecer o mundo, coisa que ele sempre quis, mas só podia vê-lo ali, a lutar contra a morte, que pairava mesmo ao seu lado, tentando-o a cada segundo. mas foi forte, o meu irmão, lutou até perder todas as forças, lutou até o ar ser demasiado pesado para os seus pulmões e simplesmente parar de respirar. quando isso aconteceu, eu descansava deitada no seu peito, embalada pela sua fraca respiração, segurando a sua mão, como se isso o prendesse a mim e impedisse a sua alma de deixar aquele corpo inerte. mas a força do meu desejo não foi suficiente para o manter ao meu lado e, subitamente, sem esperar ou pedir licença, a sua vida escorreu lenta por entre os meus dedos, deixando-o frio e desprovido de qualquer cor. momentos depois a minha mãe tocou no meu ombro, fazendo-me despertar. e nesse momento, ao perceber que o meu irmão partira para sempre, o meu coração partiu-se, e nunca mais voltou ao normal.

parte 1 aqui.

sábado, 13 de agosto de 2011

Letters To Jane II

Minha Jane, mais uma vez te escrevo, na esperança vã de preencher o vazio que criaste em mim.
Estou aqui, no nada, à procura de uma luz que me indique o caminho, uma luz que só tu me podes dar.
Aos poucos consigo voltar a mim, voltar a sentir-me, sair do estado de dormência doce em que me encontrava, para um estado talvez pior. Já não dou por mim a imaginar-me contigo deitada nos meus braços, já não acredito que voltes a qualquer momento, limito-me a sentir a tua falta, agora que percebi que já não vais voltar.
Gostava de te ter prendido a mim da última vez que me abraçaste... Assim não terias podido fugir de mim, como um pássaro foge de uma gaiola deixada entreaberta por descuido.
Sabes, ainda não consigo imaginar-me a viver todos os dias sem o teu doce sorriso quando te apanhava distraída a olhar para mim, sem os teus abraços confortantes quando me sentia mal, sem o teu corpo sobre o meu, a pele suada, a respiração acelerada, o brilho nos olhos, naquelas noites que eram só nossas. Não percebo qual é o sentido da vida quando não temos alguém para percorrê-la ao nosso lado, o meu alguém eras, és e sempre serás tu.
A última vez que estiveste ao meu lado foi à uns dias, mas a mim parece-me a eternidade. Lembro-me de todos os segundos, o dia estava quente e ensolarado e fomos à praia. Não te confessei, mas sentia-me mais do que orgulhoso de te ter ao meu lado, sabia que havia muita gente a cobiçar o lugar em que me encontrava, tão seguro, tão cego. Olhar para ti bastava para me deixar louco e tu, com essa subtileza de felina, aliciavas ainda mais o meu desejo, tinhas-me na tua mão sem qualquer dúvida. E depois abraçaste-me, beijaste-me e começaste a afastar-te lentamente. Quando olhaste para trás lançaste-me um sorriso maroto e correste de novo para os meus braços, para mais um beijo de despedida, aí, talvez por ingenuidade, talvez por cegueira, nunca me atrevi a imaginar que essa seria a última vez que os teus lábios tocavam nos meus, mas foi. Depois disso partiste, disseste que já não me amavas e simplesmente foste, deixando-me aqui destroçado.
Talvez não estivesse escrito que nós ficariamos juntos, a princesa que tu és simplesmente não fica com o plebeu, não fica com alguém como eu.
Porquê que desta vez não fazes como em todas as outras antes e simplesmente voltas, nessa tua diversão de yoyo ? Porquê que sinto que desta vez foi de facto diferente e que tu não vais voltar mais ? Eu sinto mesmo a tua falta...
Amo-te sempre Jane.
Sempre teu, Edward.

domingo, 7 de agosto de 2011

Letters To Jane I

Jane. Onde foste Jane ? Porque foste e me deixaste aqui Jane ? Não sabes como eu preciso de ti ?
Ainda ontem tudo estava bem. O que aconteceu ? Como podes dizer que tudo o que havia simplesmente desapareceu ? Jane ... tu sabes como eu preciso de ti ! Para mim nada mudou. Excepto talvez o grande buraco vazio que se instalou dentro de mim.
Eu quero chorar sabes ? Quero que as lágrimas preencham o vazio que tu deixaste, que apaguem a cor do teu sorriso da minha memória Jane, mas não consigo. Acho que já não tenho mais lágrimas para chorar.
Ó Jane, minha doce Jane, o que foi que fiz de errado ? Tudo o que queria era fazer-te feliz e agora fiquei sem ti. O que foi que aconteceu ? 
Estou vazio. Tudo o que sei foi que partiste, mas para onde ? Se soubesse onde estás eu juro que corria todo o mundo só para te ver, só para ver o teu sorriso, mas tu foste e não deixaste uma direcção, talvez porque não queres que te encontre, mas porquê ? Tudo o que quero é fazer-te feliz.
Dizes que já não me amas, mas eu não me importo, posso ser o único a amar aqui, eu até posso amar por nós os dois, mas preciso de ti aqui, isso é tudo o que eu preciso, mesmo até mais do que o ar que respiro, sabes ?
Eu não aguento mais Jane, tu vais e vens como um yoyo, fazes-me feliz só para tirares isso de mim outra vez, brincas com o meu coração como uma bola e eu já não tenho mais pensos que lhe possa colocar, tu partiste-o, até aos mais pequenos pedacinhos, mas eu continuo à espera que voltes para o reconstruíres outra vez, tu sempre foste boa com puzzles.
Porque não ficas comigo ? Porque não te limitas a deixar-me ser feliz ? Eu sei bem que te posso fazer feliz também, deixa-me só tentar mais uma vez Jane, eu prometo que consigo !
Disseste-me que isto não era amor, mas então o que é ? Explica-me, para que eu possa trasformar isto em amor, diz-me, para que eu possa saber como é amar-te, conta-me, para que eu possa ver-te sorrir do meu lado outra vez.
Sinto que estou a ser consumido pelo vazio que abriste em mim, as trevas absorvem-me pouco a pouco, já não passo de um fantasma, sem alma nem rosto, que deambula pela imensidão das ruínas do nosso mundo. Porque tudo o que disseste é que serias mais feliz sem mim, por isso eu desaparecerei, por ti, vou deixar que a vida em mim se extinga e que no meu último suspiro seja o teu nome que saia dos meus lábios, porque eu amo-te, assim da minha maneira de amar, e prometi que serias tu a única mulher até ao fim dos meus dias. Agora que foste embora já não tenho mais dias para viver.
Adeus, vou amar-te sempre minha doce Jane.
Edward

New Project "Letters To Jane"

Queridos seguidores, não seguidores e quem mais andar para aí,
venho por este meio pedir-vos muiitas desculpas pela minha enorme ausência, tem me dado uma branca prolongada e não tenho escrito nada de jeito :c
Anyway, estou de volta e com um projecto novo em mãos :) Chama-se "Letters To Jane" e consiste num conjunto de cartas que Edward escreve para Jane quando esta o deixa. Todas as cartas são escritas por mim e qualquer ligação com a realidade é totalmente intencional, uma vez que aproveitei este projecto como uma forma mais discreta de libertar o que me vai na alma.
Obrigada a todos *
Simone Rodrigues