e se o coração partir ? (1)

- o que é ?

- o meu coração - sorri.

- hum ? não te percebo- ele olhava perplexo para o amontoado de linhas que tinha acabado de desenhar na borda do meu caderno.

- é o meu coração - insisti, sem deixar de sorrir.

- como pode ser ? não se parece com nada !

- e porquê que se tem que parecer com alguma coisa ? - retaliei divertida.

- porque os corações são todos corações, são todos iguais. e o meu não se parece com isso !

- então e se este for partido ? - deixei o sorriso desaparecer por momentos do meu rosto - ou se tiver sido demasiado mutilado ?

- os corações não se partem ! isso é só o que dizem - a teimosia dele fez-me sorrir de novo.

- então e se se partirem ? - perguntei, apenas por curiosidade. tínhamos opiniões bastante diferentes e nenhum de nós ia dar o braço a torcer. nisso éramos muito parecidos, ambos éramos teimosos e não desistíamos facilmente. Eric calou-se para pensar numa resposta para me dar, era um rapaz bem astuto para a sua tenra idade e era para mim um orgulho quando me diziam que ele estava cada vez mais parecido comigo.

- não podem partir - afirmou Eric firmemente, ao fim de uns segundos. - senão morríamos.

o meu irmão era sem dúvida a pessoa que mais amava no mundo. então limitei-me a sorrir face à sua conclusão, passei-lhe o braço nos ombros e disse :

- está bem, és um rapaz esperto. para celebrar que tal irmos comer um gelado ?

ele sorriu extasiado e deu-me a mão. juntos fomos, confidenciando ao vento as nossas conversas banais em mais uma tarde de verão.