"a carta que nunca te escrevi"

    Querida Érica,

 já há muito tempo que não sentia necessidade de me abrir assim contigo. Lamento que não sejas mais do que fruto da minha imaginação, a amiga que permanece invisível do meu lado mesmo quando tudo corre mal, quem me conforta mesmo sem existir... Às vezes gostava de poder ouvir-te.

 Hoje precisava de um abraço... Um abraço silencioso, sem julgamento. Um abraço confortante que as palavras que fluem até aos meus dedos se recusam a dar. Um abraço verdadeiro e sentido. Um abraço teu ! Ou talvez um abraço dele...

 Preciso de te contar tudo e coisa nenhuma. Estou vazia, só. Ele partiu e eu deixei, podia ter corrido atrás dele, podia ter-lhe dito que o amava acima de tudo, podia... Sim, podia, mas não o fiz. Porquê ? Por medo, talvez... Não, nunca foi por medo de me curvar ou humilhar. Foi o simples medo de sofrer mais com a sua rejeição.

 Fi-lo sofrer, sim. Mas fui eu quem mais sofreu! Não senti as garras lancinantes do ódio a arrancá-lo do meu coração. Deixei-me ficar, a amá-lo simplesmente, como sempre fora, sem ter qualquer motivo a obrigar-me a tirá-lo de dentro de mim.

 Sinto que podia ter feito melhor... Melhor por mim... Melhor por ele... Melhor por nós ! Um 'nós' que eu julgava eterno, em que eu acreditei com tudo o que tinha e do qual saí a perder, sem perceber.

 Mas agora ? Sinto que falta algo em mim. Falta o bocado do meu coração que ele levou quando me disse adeus, o pedaço de mim que quero recuperar com todas as forças, falta-me ele, percebes ?

 Prometi que nunca o esqueceria, tenho o hábito de cumprir as minhas promessas. Tão cedo ele não sairá do meu coração. Por agora limito-me a admirá-lo ao longe e a sonhar com os seus beijos.

 Obrigada por mais uma vez me ouvires, és a melhor amiga imaginária do mundo, amo-te.

O abraço que não posso ter,

Simone

(composição de português. se já não serves para nada na minha vida, pelo menos inspiras-me, por isso mesmo, obrigada (: )